Vimos uma classe lutando pelos seus direitos, os admiramos quando fizeram aquilo que gostaríamos de fazer pelos nossos, os odiamos quando nosso consumismo teve que ser reduzido, pedimos intervenção militar e quando eles vieram tiraram nossos direitos, não entendemos. Não estou falando de mim ou de você, estou falando de nós, os brasileiros.
Por que pedem intervenção militar?
O Brasil passou pelos períodos Colonial, Imperial e Republicano. Passou por duas guerras mundiais, por governos militares, com direito a cassação de direitos políticos e liberdades individuais. A escola acompanhou todos estes períodos, seja sofrendo as interferências ou moldando os estudantes no formato que o governo precisava de seus cidadãos.
Estamos vivendo a quarta revolução industrial, nossos estudantes são nativos digitais, nossos professores viveram em um período menos opressor. Mas continuamos a ensinar e educar como o governo precisa de seus cidadãos.
Quando um estudante não aprende com um metodologia nova, voltamos ao tradicional. Os pais tentam educar com amor, mas quando não dá certo, voltam a educar como foram educados. Nosso cérebro busca na memória de longo prazo como reagir a uma situação, ele não tem discernimento, ele apenas buscar uma forma de resolver.
Quem é que está pedindo intervenção militar?
A intervenção militar está sendo defendida por aqueles que não aguentam mais a corrupção e a forma de resolução dos políticos frente aos problemas brasileiros. E quando o cérebro dele tenta buscar a melhor solução, busca na sua história de vida. Desde o seu primeiro dia na escola sentou em filas, com cadeiras individuais, sem poder levantar, com horário para ir ao banheiro, uma vez na semana fazia fila para cantar o Hino, devendo ficar imóvel, usava uniforme para não ter identidade própria, seus professores eram a autoridade máxima na sala de aula, e o estudante não tinha voz ou vez.
Reclamamos que o “povo aceita tudo”, o “povo não sabe votar”, mas nós somos o povo. Assim como reclamamos que nossos estudantes não sabem interpretar textos, não tem criticidade, criatividade e autonomia, mas nós somos os professores deles, também não temos e muito menos ensinamos a ter.
A escola deve continuar o jardim de infância, ensinando a ter liberdade, a criticar sua realidade com seus “porquês”, criar o seu próprio aprendizado e a ter autonomia sem precisar de uma autoridade dizendo o que deve fazer o tempo todo. Parece assustador para um professor atual, por que este professor também busca no seu cérebro “qual é a melhor educação” e só consegue encontrar a disciplinadora que recebeu.